(Português) 15 de janeiro de 2013
por Carolina Leal e Giba Bergamim Jr., de São Paulo, e María Martín, em colaboração para a Folha
Dentre os imóveis estão hotéis, casarões e edifícios comerciais; alguns estão destinados a moradias, mas atrasaram. Invasões recentes, as primeiras da gestão Haddad, motivaram reunião da prefeitura com os movimentos.
Com sua barriga de nove meses de gravidez abrindo caminho, a cabeleireira Eline Brenda da Silva Matos, 29, sobe cinco lances de escada do antigo hotel Cambridge até chegar ao seu quarto, com direito a flores na entrada e um berço de madeira no canto.
Esse é seu lar desde novembro do ano passado, quando, sem ter onde morar, resolveu aderir à FLM (Frente de Luta por Moradia) e participar da invasão do edifício abandonado, na avenida Nove de Julho.
Agora, ela faz parte do grupo de sem-teto organizado em diversas entidades que ocupa, atualmente, ao menos 31 imóveis no centro de São Paulo -além de hotéis, há casarões e edifícios comerciais.
As invasões mais recentes são as da rua General Couto Magalhães e da avenida Celso Garcia, as primeiras realizadas na gestão de Fernando Haddad (PT) e que motivaram uma reunião do prefeito com os sem-teto na semana passada.
Mas há também velhas conhecidas dos paulistanos, como a do número 340 da rua Mauá, invadido há quase seis anos. “O número de ocupações é alto e, infelizmente, mostra a ineficiência para resolver a questão habitacional”, diz Carmen da Silva Ferreira, 25, uma das coordenadoras da FLM.
Em comum, todos os imóveis estão vazios e têm problemas como dívidas de IPTU ou apresentam atraso na reforma e na implantação dos programas de moradia.
É o caso do próprio Cambridge e do hotel Lord, na esquina da rua das Palmeiras com a Helvétia, hoje pertencentes à Cohab (Companhia Metropolitana de Habitação).
Ambos integram o principal programa de habitação local, o Renova Centro, que listou mais de 60 edifícios para moradia popular -mas que ainda patina.
Desses, 17 ainda estão com projeto em desenvolvimento, outros 26, em fase de desapropriação e mais 20, em fase de estudo de viabilidade técnica.
REINTEGRAÇÃO
Para este mês, estão marcadas sete reintegrações de posse. Os movimentos querem negociar com a nova gestão o adiamento dessas ações.
“Se a gente tiver que sair de um prédio, vai entrar em outro. Agora não tem mais meio-termo, a gente não tem mais o que falar para as bases [do movimento]”, afirma Edinalva Franco, 40, do Movimento Moradia para Todos.
Outra reivindicação é o reajuste do bolsa-aluguel para R$ 700 -hoje varia entre R$ 300 e R$ 500 mensais. “Não se aluga nem uma vaga de pensão por esse valor”, diz Carmen.
Atualmente, a prefeitura trabalha com três programas de subsídio para locação, atendendo 29.907 famílias.
A Secretaria Municipal de Habitação não soube informar se haverá reajuste. Afirmou, porém, que está em contato com as entidades e reafirmou o projeto de construir 55 mil moradias na cidade.
Fonte: Folha de São Paulo
Leia mais sobre o dia a dia nas ocupações em antigos hotéis aqui.
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